Quando a comida vira um perigo
Começar o dia com pão e leite no café da manhã é um perigo à saúde para uma parcela da população.
Começar o dia sem pão e leite no café da manhã parece impraticável para muita gente.
Entretanto, esses alimentos, tão tradicionais à mesa, são um perigo à saúde de uma parcela da população.
Um em cada 200 brasileiros é celíaco, ou seja, não tolera o consumo de glúten, substância presente no trigo e em outros cereais. A ingestão de laticínios é problema para um em cada quatro adultos no país. Já a fenilcetonúria, intolerância a certas proteínas, afeta um em cada 10 mil recém-nascidos. Sem tratamento adequado, essas doenças podem gerar consequências graves.
AS DIFERENTES INTOLERÂNCIAS
AO GLÚTEN
O que é: também conhecida como doença celíaca, caracteriza-se pela intolerância ao glúten, principal proteína presente em trigo, aveia, centeio, cevada e malte (subproduto da cevada).
Essa intolerância induz a produção de anticorpos ao glúten, que agridem e danificam as paredes do intestino delgado, fazendo com que ele tenha dificuldade de absorver nutrientes (sais minerais, vitaminas e água). Geralmente, a doença se manifesta na infância, mas pode surgir em qualquer idade.
Sintomas: na doença celíaca clássica, são comuns diarréia crônica, desnutrição com déficit do crescimento, emagrecimento e falta de apetite, anemia, distensão abdominal (barriga inchada), vômito, osteoporose, esterilidade, abortos de repetição, glúteos atrofiados, pernas e braços finos, apatia e desnutrição aguda. Na doença celíaca não clássica, os sintomas mais comuns são anemia resistente à suplementação de ferro, irritabilidade, fadiga, baixo ganho de peso e estatura, constipação intestinal crônica, manchas e alteração do esmalte dos dentes, esterilidade e osteoporose antes da menopausa.
Tratamento: como não tem cura, consiste em uma dieta isenta de glúten - sem pães, bolos, bolachas, macarrão, cerveja, uísque, vodca, etc. A dieta restringe muito o consumo de carboidratos.
Consequências do consumo de alimentos proibidos: além da continuidade e até agravamento dos sintomas, que trazem desconforto ao paciente, a diminuição da absorção de nutrientes pode levar a anemia, câncer do intestino, osteoporose, abortos de repetição, esterilidade e até morte por desnutrição aguda, na falta de diagnóstico e tratamento.
INTOLERÂNCIA À LACTOSE
O que é: impossibilidade de digerir leite e derivados. Essa deficiência se manifesta em dois casos: pacientes que não produzem a enzima lactase ou a produzem em quantidade insuficiente para realizar a digestão da lactose (o açúcar do leite, um dissacarídeo que, com a ação da enzima lactase, transforma-se em dois monosacarídeos, glucose e galactose).
A falta ou deficiência na produção da lactase faz com que, ao chegar ao intestino grosso, a lactose não seja absorvida pelo organismo. Incidência: um em cada quatro brasileiros.
Sintomas: diarreia, constipação, distensão abdominal (barriga inchada), gases, arrotos, náusea e cólica, geralmente iniciando entre 30 minutos até duas horas após a ingestão de alimentos que contenham lactose. A gravidade dos sintomas depende da quantidade ingerida e da quantidade de lactose que o organismo tolera.
Tratamento: por não ter cura, consiste em dieta isenta de lactose.
Consequências do consumo de alimentos proibidos: desidratação, continuidade e até agravamento dos sintomas.
FENILCETONÚRIA
O que é: incapacidade de metabolizar o aminoácido fenilalanina, presente em proteínas como carnes e ovos, leguminosas e alguns cereais. O aminoácido se acumula no sangue e nos tecidos. Por ser tóxico, ao atingir o cérebro gera, entre outros problemas, deficiência mental.
Sintomas: o diagnóstico deve ser preventivo, logo após o nascimento do bebê, uma vez que os danos provocados pela doença são irreversíveis.
Diagnóstico: na triagem neonatal, dosagem de fenilalanina no sangue. O teste é feito com a coleta em papel filtro (do teste do pezinho), com uma pré-ingestão de proteína.
Tratamento: não tem cura. Os fenilcetonúricos não podem alimentos que contenham fenilalanina como carnes, leite e derivados.
Consequências do consumo de alimentos proibidos: atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, deficiência mental, comportamento agitado progressivo ou padrão autista, quadro convulsivo.