Mente gorda

14/09/2012 21:50

A verdade é que há uma ligação direta entre as emoções e o ganho de peso. Assim sendo, a cabeça pode, sim, levar ao sobrepeso, principalmente em pessoas com a "mente gorda".

O corpo sente as consequências quando a alimentação deixa de ser combustível para o funcionamento do corpo e vira fonte de prazer. É quando o estado emocional passa a ser dependente da comida. A situação se agrava ainda mais quando ela se torna a única fonte de prazer.

A produtora cultural Ana Lira não nega que muitas vezes recorre à comida para extravasar algum sentimento. "Como doce toda vez que me estresso. Sinto um alívio, fico mais calma. Isso sempre acontece comigo, mas só que agora estou trocando o doce por uma fruta; pelo menos é mais saudável. Mas sempre escolho uma fruta doce."
Já Keila Sena, também produtora cultural e de comerciais, comenta que a ansiedade a faz comer além da conta, e geralmente isso está relacionado a questões pessoais. Enquanto está na correria que seu trabalho impõe, ela diz não sentir nenhum pouco de fome. "Mas de uns poucos anos pra cá, quando tenho um sentimento mais voltado para a tristeza, sinto vontade de comer doces. Doce nunca foi meu forte, mas quando tenho esse tipo de sentimento, angústia, tristeza, o doce me conforta."
Apesar de não haver estudos conclusivos sobre diferenças de gênero quanto aos comportamentos alimentares, vários dados, segundo o psicólogo cognitivo-comportamental Diego Macedo, apontam serem as mulheres mais suscetíveis a transtornos alimentares. Segundo 4ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico das perturbações Mentais (DMS), publicação norte-americana, o sexo feminino apresenta uma tendência 1,5 vezes maior para apresentar problemas dessa ordem, relacionado com comer compulsivamente e impulsivamente.

Terapia cognitiva é o tratamento mais indicado

O tratamento mais recomendado para distúrbios alimentares é a Terapia Cognitivo-comportamental, uma técnica que trabalha modificando os padrões de pensamento, emoção e comportamento construídos ao longo de anos pelo paciente, como indica o psicólogo e professor Diego Macedo. 

"A pessoa que usa técnicas cognitivas comportamentais consegue desenvolver um padrão de consumo alimentar mais saudável, geralmente diminuindo o desconforto diante dos alimentos calóricos. Além disso, o paciente aprende a desenvolver uma nova rotina, no qual pode até incluir alimentos calóricos mas em menor quantidade, em uma menor frequência semanal de consumo e de modo que não se estabeleça uma rotina para esses alimentos", esclarece Diego, para quem tudo é uma questão de mudança de hábitos e dos padrões de pensamento.

O psicoterapeuta Ronnie Peterson trata distúrbios alimentares com hipnoterapia ericksoniana e diz gostar de fazer seus pacientes perceberem como seus próprios pensamentos funcionam. Segundo ele, muitas vezes uma dieta não funciona pelo fato de ser uma mudança imposta de comportamento. "Só que mudar um hábito sem uma mudança cognitiva e emocional, ou seja, sem mudança de pensamento e de sentimento, a probabilidade daquele comportamento antigo voltar é muito grande."

Ele comenta ser a comida algo muito primitivo e de ser através da boca nossa primeira relação com o mundo. É a chamada fase oral, quando temos contato com o peito materno que, além do alimento, nos dá conforto, afeto e acolhimento. "Tem mães que amamentam os filhos e estão ansiosas, depressivas, não estão conseguindo estar emocionalmente com eles. Então, você vai associar aquela sensação de comer e de não se saciar."

Diego Macedo comenta que nem sempre a pessoa com esse padrão de "pensamento gordo" é obeso, apesar de essa ser uma forte tendência. "É comum haver sentimentos desagradáveis durante e após os episódios de excesso alimentar já que o ato comer compulsivamente mexe com a auto-estima e com o humor, podendo levar a quadros de transtornos de ansiedade e depressão."

Já Ronnie Peterson diz ouvir bastante no consultório pacientes dizendo: "Nem gosto tanto assim de comer, mas quando fico ansioso, eu como. E eu não sei porque isso acontece." Na verdade, segundo o terapeuta, trata-se de uma pessoa ansiosa, que associa a ansiedade a um comportamento de comer muito. 

Além de hipnose, Ronnie Peterson também trata seus pacientes com meditação que, de acordo com ele, ensina a pessoa a  lidar com a respiração, o que melhora a ansiedade, e também faz desenvolver a atenção pelos próprios pensamentos. 

"Não podemos esquecer também que tem o componente educativo. Ao mesmo tempo em que nossa sociedade cobra das pessoas ter corpos extremamente sarados e magros. Então, a gente saber que em nossa sociedade como um todo, no geral, as pessoas têm uma dificuldade muito grande de lidar com o próprio corpo, de escolher alimentos saudáveis também", reflete Ronnie. 


FONTE: Tribuna do Norte